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"Lembra-te deles, os quase loucos de sofrimento, e trabalha para que a Doutrina Espírita lhes estenda socorro oportuno. Para isso, estudemos Allan Kardec, ao clarão da mensagem de Jesus Cristo, e, seja no exemplo ou na atitude, na ação ou na palavra, recordemos que o Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade – a caridade da sua própria divulgação".

Trecho retirado do livro Estude e Viva – FEB 9ª edição, cap. 40. Chico Xavier/Waldo Vieira. Pelos espíritos Emmanuel/André Luiz.

Campanha Segunda Sem Carne

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O mancebo rico


Trecho do livro "Primícias do Reino" ditado pelo espírito de Amélia Rodrigues e psicografado por Divaldo Pereira Franco.

O momento era de profunda significação. Sabia, por estranha intuição, que um dia defrontaria a Realidade, e a encontrava agora (*).

No ar abafado do entardecer serenavam as ânsias da Natureza.

Doces perfumes evolavam de miúdas flores derramadas nos flancos do aclive. As águas transparentes cantavam melodias ignotas, deslizando sobre o leito de pedras arredondadas.

O apelo pairava vibrando em derredor: - “Vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás um tesouro no céu; vem, e segue-me”.

Aquela voz penetrava como um punhal afiado e impregnava qual perfume de nardo.

Havia um magnetismo inconfundível naqueles olhos severos e profundos como duas estrelas engastadas na face pálida do amanhecer.

Tinha sede de paz.

Embora repousasse em leito de madeiras preciosas incrustado de ébano e lápis-lazúli, se banqueteasse em repastos opíparos, cuidasse do corpo com massagens de óleos e unguentos raros, envolvendo-o em tecidos de linho leve, e suas arcas estivessem abarrotadas de gemas e ouro, sabia-se infeliz, sentia-se infeliz. Faltava-lhe algo que não se consegue facilmente.

Hesitava, no entanto.

Sua vivenda era luxuosa, seus pertences valiosos e vazio o seu coração.

Conquanto a juventude cantasse alegrias e festas em convites constantes ao prazer no corpo ágil e vigoroso, acalentava melhores aspirações, se disputava a posse total da paz. Era mais do que um tormento essa necessidade. Não que desejasse a tranquilidade aparatosa dos fariseus ou o repouso entorpecente dos mercadores opulentos, nem a serenidade enganosa dos cambistas abastecidos ou a senectude vitoriosa dos conquistadores em aposentadoria compulsória. Buscava integração harmoniosa, mas não sabia em quê.

Confragia-se e angustiava-se,  ignorando as nascentes da melancolia renitente que lhe dissipava sonhos e esperanças sob guante de inenarrável amargura.

Buscava as competições em Cesaréia, todavia ignorava se essa busca representava uma realização ou fuga.

Agora, pela primeira vez, sentia-se arrebatado.

A meiguice e a ordem daquela voz, enunciada por aquele Homem, ecoavam como cascatas em desalinho nos abismos do espírito.

Interiormente gritava: “Irei contigo, Senhor, mas...”

Hesitava, sim, e a hora não comportava dubiedades.

Uma roseira de flores rubras, que abraçava os ramos do arvoredo próximo, sacudida pelo vento, desgarrou-se e as pétalas da cor de sangue caíram-lhe aos pés, junto dEle, no alpendre, como sinais...

Donde O conhecia? – indagava, a medo , procurando recordar-se, com indizível esforço mental.

Tudo àquela hora era importante; mais do que isso: vital!

Ao vê-Lo, de longe, era como se reencontrasse um amigo, um Celeste Amigo.

Quando os seus descansaram nos olhos d’Ele, sentiu-se desnudado, o coração em descontrole sob violenta pulsação. Emoções inusitadas vibravam no seu ser, como jamais acontecera anteriormente. Desejou arrojar-se ao solo, esmagado por indômita constrição no peito.

Percebeu que o Estranho sorriu, como se o esperasse, como se o amasse, poderia afirmá-lo...

O tempo corria célere galopante as horas fugidias.

Seus lábios se afiguravam selados, e frio impertinente gelava-lhe as mãos.

Lutava por quebrar aquele torpor que o imobilizava.

Retalhos de luar tímido prateavam nuvens soltas no firmamento, bordando de luz oliveiras altivas e loendros em flor.

– Permite-me primeiro – conseguiu articular, vencendo a emoção que o transfigurava – competir em Cesaréia, logo mais, disputando para Israel os triunfos dos jogos...

– Não posso esperar. O Reino dos Céus começa hoje e agora para o teu espírito. Não há tempo a perder.

– Aguardei muito essa ocasião e ela se avizinha, com a chegada do período das competições... Exercitei-me, contratei escravos que me adestraram... aos partos comprei, por uma fortuna, duas parelhas de fogosos cavalos... os jogos estão próximos...

– Renuncia, e segue-me!

Quem era Ele, que assim lhe falava? Que poder exercia sobre sua vontade?!  Por qual sortilégio o dominava?!... Gostaria de fugir ou deixar-se arrastar;  estava perturbado; ignorada sofreguidão o aniquilava...

A horizontalidade das aflições humanas contemplava a verticalidade da sublimação divina; o cotidiano deparava com o infinito; o vale fitava o abismo das alturas e se perdia na imensidão.

O homem e o Filho do Homem se defrontavam.

O diálogo parecia impossível, reduzindo-se a um monólogo atormentante para o moço diante daquele Homem.

Vencendo irresistível temor, continuou o príncipe afortunado:

–  Não receio dar o que possuo: dinheiro, ouro, gemas, títulos, se possível, pois sei que estes se gastam mui facilmente, mas...

–  ...Dá-me a ti próprio e eu te oferecerei a ventura sem limite.

Que alto prêmio! Que pesado tributo! – pensou desanimado.

Era muito jovem e muitos confiavam nele. Possivelmente Israel lucraria com os seus lauréis e triunfos. Príncipe, tinha pela frente as avenidas do poder a que se afervorara, poder que no momento se destituía de qualquer valor.

Os bens, poderia ofertá-los, sim. Porém a fortuna da juventude, os tesouros vibrantes da vaidade atendida e dos caprichos sustentados, as honras de família resguardadas pela tradição, os corifeus agradáveis e bajuladores, oh! seria necessário renunciar-se a isso tudo? – interrogava-se, inquieto.

– Sim! – Respondeu-lhe, sem palavras, com os olhos fulgurantes.

Sofria naqueles minutos a soma dos sofrimentos que experimentara a vida toda.

O ar cantava leves murmúrios enquanto as tulipas do campo teciam um manto sutil, rescendendo aromas.

O Rabi, em silencio, aguardava. E ele, em perplexidade, lancinava-se.

O diálogo tornara-se realmente impossível.

Subitamente, o príncipe de qualidade, num átimo de minuto, lembrou-se que amigos o aguardavam na cidade. Compromissos esperavam-no. Deveria debater os detalhes finais para a corrida na grande festa da semana entrante.

Acionado por estranho vigor, que dele se apossou repentinamente, fitou o Messias sereno e triste, balbuciando com voz apagada:

E saiu quase a correr.

***
 
Sopravam os ventos frios que chegavam de longe, musicados pelo bulício das estrelas balouçantes.

A terra estuava sob a gramínea orvalhada.

O Mestre sentou-se e se encheu de profundo sofrimento.

Era assim, sempre assim que Ele ficava após a deserção dos convidados ao Banquete da Luz. A expressão de mansuetude e perdão que lhe brilhava nos olhos mergulhava em lágrimas, agasalhada em leves tons de amargura.

Assim O encontraram os discípulos. Interrogado, respondeu:

–  “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas”!

***

Uma semana depois Cesaréia era a capital do ócio, do prazer.

Situada ao norte da planície de Sarom e a 30 quilômetros ao sul do Monte Carnelo, foi embelezada por Herodes que, no local, mandou erguer grande porto de mar, caracterizado por colossal quebra-mar enriquecendo-a com imponente Templo onde se levantava descomunal estátua do imperador.

Esse porto valioso sobre o Mediterrâneo era importante escoadouro de Israel e porta de entrada marítima onde atracavam embarcações de toda parte.

As vilas ajardinadas debruçavam-se sobre as encostas pardacentas da cidade, exibindo estilos arquitetônicos variados.

Pelo seu clima agradável, tornara-se residência oficial dos procuradores romanos, em Israel.

Tamareiras onduladas pelo vento adornavam as ruas e odores exóticos misturavam-se no ar varrido pela maresia.

Os festins de Cesáreia pretendiam rivalizar com os de Roma, atraindo aficionados até mesmo da Metrópole longínqua.

Ao som alegre de trompas e fanfarras começavam as festas públicas.

Competições de bigas abrem as corridas ante a aflição de judeus, romanos e gentios que deixaram sobre as mesas dos cambistas pesadas apostas nos seus ases.

Gladiadores em combates simulados, tocadores de pífanos e flautas, alaúdes e címbalos, enchem os intervalos de som e cor.

As quadrigas estão na linha de partida. Os fogosos corcéis, adquiridos aos partos, oriundos da Dalmácia, de Tiro, Sidon e da Arábia, empinam, lustrosos, ajaezados. Ao sinal disparam, sob estrondosa ovação.

Chicotes vibram no ar, mãos firmes nas rédeas, os guias e condutores dão velocidade aos carros frágeis. A celeridade prende a respiração em todos os peitos.

Numa manobra menos feliz, um carro vira e um corpo tomba na arena, despedaçado pelas patas velozes, em disparada.

O moço rico sente as entranhas abertas, o suor e o sangue em pastas de lama, a respiração estertorada...

Enquanto escravos precípites arrastam-no na pista, foge mentalmente à cena brutal que o esmaga, e entre as névoas que lhe sombreiam os olhos parece vê-LO.

Silenciando os gritos na concha acústica tem a impressão de escutá-lo.

–  Renuncia a ti mesmo, vem, e segue-ME.

–  Amigo!...

Dois braços o envolvem veludosos e transparentes.

Apesar da face deformada e lavada pelas lágrimas, o suor e o sangue, ele dá a impressão de sorrir.

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Pelo Espírito de Amélia Rodrigues – Primícias do Reino

(*) Mat. 19: 16 a 30
     Mar. 10: 17 a 31
     Luc.  18: 18 a 30
     (Nota da Autora espiritual) 

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