Richard Simonetti, richardsimonetti@uol.com.br
"Bem-aventurados os humildes, porque deles é o Reino dos Céus.”
(Mateus, 5:3)
Essa ideia levou muitos cristãos, no passado, à renúncia dos bens materiais, chegando ao extremo de cultivarem a indigência, no pressuposto de que, quanto mais miseráveis na Terra, mais ricos aportariam no Além.
Um mínimo de bom senso, todavia, é suficiente para perceber que o fato de o indivíduo não deter bens materiais em absoluto significa que as portas do Céu lhe estejam abertas, da mesma forma por que não se pode afirmar que permaneçam cerradas aos detentores de riquezas. Há pobres maus e ricos bons, e vice-versa. O dinheiro é neutro. Tanto pode ser utilizado para o Bem como para o Mal. Com ele compramos o leite que alimenta a criança e o tóxico que compromete o jovem.
Exprimindo uma posição interior, e não uma circunstância exterior, a humildade não pode ser avaliada sob o ponto de vista econômico.
O caminho dessa realização sublime em nós é o reconhecimento de nossa pequenez diante do Universo e a consciência plena de que tudo pertence a Deus, o Senhor supremo que somos chamados a servir, acatando-lhe a vontade nas circunstâncias da Vida e respeitando-lhe a obra da Criação, seja na pessoa do semelhante, no animal, na árvore, na flor, no fruto, no inseto, na paisagem que nos cerca.
Somente assim estaremos em condições de ingressar no Reino. Onde o encontraremos? Na Terra, transformada em paraíso, quando o Mal houver sido definitivamente derrotado? Ou se localizará em distante constelação? Será em plano de matéria densa ou em etéreas regiões espirituais?
Nada disso! O Reino – diz Jesus – está dentro de vós!
Compete-nos, pois, localizá-lo em nosso universo interior, essa gloriosa edificação que poderíamos definir como o estado de harmonia perfeita, de inefável tranquilidade, de sintonia plena com as fontes da Vida!
Por que a humildade é indispensável?
A resposta é simples: para ingressar nesse estado de graça é preciso ser livre e, por estranho se afigure, somente o homem humilde desfruta de liberdade plena.
Todos temos aspirações em torno de determinadas realizações e empregamos esforços no sentido de concretizar nossos desejos: estabilidade financeira, sucesso na profissão, progresso material, conforto, casa, automóvel, família, filhos...
São temas que constituem nossas motivações mais frequentes. Não raro, entretanto, empolgamo-nos em demasia e tudo isso, que deveria ser parte de nossa vida, se transforma em finalidade dela. Então nos escravizamos.
Há, por exemplo, o homem que se empenha no louvável propósito de melhorar sua situação financeira. Monta um estabelecimento comercial, prospera... Sempre procurando melhorar, monta outro negócio, prospera... Depois outro e mais outro, prosperando sempre. Acaba movimentando fortunas imensas, mas já não é dono de si. Não dispõe de tempo para nada mais. Problemas se avolumam e, quanto mais cresce sua fortuna, maiores suas preocupações, mais lacerantes suas tensões, menor sua liberdade.
Pior, talvez, o jugo daqueles que não conseguem realizar as aspirações a que se prendem. O casamento que não se concretiza, o filho que não nasce, o mal que não é debelado, o sucesso que não chega... Estes resvalam facilmente para a frustração e o desânimo que geram infernos de perturbações em suas vidas.
O homem humilde também alimenta aspirações. Afinal, elas representam a mola propulsora do progresso humano. Distingue-se, porém, pelo fato de não se apegar, reconhecendo que o mais importante é definir e cumprir os desígnios divinos, sintetizados na aspiração maior – servir a Deus!
Por isso desfruta de liberdade plena para construir o Reino em seu coração.
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Pensemos nisso!
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